segunda-feira, 25 de julho de 2011

A árvore dos desejos

Uma vez um homem estava viajando e, acidentalmente, entrou no paraíso. E no conceito indiano de paraíso existem árvores-dos-desejos. 

Você simplesmente senta debaixo dela, deseja qualquer coisa e imediatamente seu desejo é realizado - não há intervalo entre o desejo e sua realização. 

O homem estava cansado, e pegou no sono sob a árvore-dos-desejos. Quando despertou estava com muita fome, então disse: 

- Estou com tanta fome, desejaria poder conseguir alguma comida de algum lugar. 

E imediatamente apareceu comida vinda do nada - simplesmente uma deliciosa comida flutuando no ar. 

Ele estava tão faminto que não prestou atenção de onde a comida viera - quando se esta com fome, não se é filósofo. 

Começou a comer imediatamente, a comida era tão deliciosa... 

Depois, a fome tendo desaparecido, olhou à sua volta. Agora estava satisfeito. 

Outro pensamento surgiu em sua mente: - Se ao menos pudesse conseguir algo para beber... 

E como não há proibições no paraíso, imediatamente apareceu um excelente vinho. Bebendo o vinho relaxadamente na brisa fresca do paraíso, sob a sombra da árvore, começou a pensar: 

- O que esta acontecendo? O que esta havendo? Estou sonhando ou existem espíritos ao redor que estão fazendo truques comigo? 

E espíritos apareceram. 

E eram ferozes, horríveis, nauseantes. 

E ele começou a tremer e um pensamento surgiu em sua mente:

- Agora vou ser assassinado, com certeza... 

E ele foi assassinado.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

O louco

Perguntais-me como me tornei louco. 

Aconteceu assim:  

um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas - as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas - e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente, gritando: 

"Ladrões, ladrões, malditos ladrões!" 

Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim e quando cheguei à praça do mercado, um garoto sobre o telhado de uma casa gritou: 

- É um louco! 

Olhei para cima, para vê-lo. 

O sol beijou pela primeira vez minha face nua. Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais minhas máscaras. E, como num transe, gritei: 

- Benditos, bendito os ladrões que roubaram minhas máscaras! 

Assim me tornei louco. 

E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade e a segurança de não ser compreendido, pois aquele desigual que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.


Autor: Kahlil Gibran